Por Otacílio Nascimento, diretor da Fundação Toyota do Brasil para Um Só Planeta
Um dos pilares para o desenvolvimento sustentável do planeta é o conjunto de 17 metas globais estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Eles fazem parte da Agenda 2030, um compromisso assinado por 193 países, incluindo o Brasil, e que precisa do envolvimento de todas as áreas – do meio ambiente à educação – para assegurar um futuro saudável para a humanidade.
Os desafios para a implementação dessa agenda se aplicam a todos os setores da sociedade, inclusive as organizações da sociedade civil (OSC), organizações não-governamentais (ONG) e instituições sem fins lucrativos. Elas se tornam atores sociais relevantes nas relações nacionais e globais voltadas para a promoção do desenvolvimento sustentável, uma vez que há convergência das finalidades de atuação com as metas contempladas nos ODS.
Segundo dados do Mapa das Organizações da Sociedade Civil – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a diversidade do setor abrange áreas de atuação que vão desde temas envolvendo desenvolvimento e defesa de direitos (35,9%), passando por cultura e recreação (10,9%), até assistência social (3,6%) e educação e pesquisa (3,6%). Dessa forma, as mais de 800 mil organizações existentes têm um potencial de impacto e abrangência expressivos, se tornando imprescindíveis para que alcancemos o desenvolvimento sustentável tão almejado.
Outro fator que traz o Terceiro Setor para um papel de protagonismo na temática tem relação com a própria forma de atuação desses stakeholders. Ao concentrar esforços em problemas sociais, econômicos e ambientais, compreendendo as dinâmicas, os desafios e as necessidades da sociedade, e buscando possíveis soluções, as organizações alcançam áreas que, muitas vezes, instâncias governamentais e o setor privado não conseguem chegar com a mesma eficácia.
Um exemplo disso foi a mobilização da filantropia durante a pandemia de Covid-19 no Brasil. As doações atingiram recorde histórico para uma única causa em tão pouco tempo: foram mais de R$ 6,5 bilhões mobilizados no país em 2020 (ABCR, 2020), contando com a contribuição fundamental do campo da filantropia e do investimento social privado (ISP). A boa notícia é que ainda há espaço para as doações crescerem, contribuindo ainda mais com o desenvolvimento sustentável do país. Um levantamento do Instituto Beja indica que o Brasil tem potencial para chegar a US$ 28 bilhões em recursos anuais destinados ao Terceiro Setor, seis vezes mais do que o nível atual.
Ademais, a sociedade civil organizada tem grande participação na economia brasileira, gerando empregos, distribuição de renda e capilarização dos recursos. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto ACP, Instituto Phi, Fundação José Luiz Egydio Setúbal, Movimento Bem Maior, Sitawi Finanças do Bem e Tereza Bracher, ela representa, em conjunto, mais de 4% do PIB (equivalente a R$ 220,1 bilhões), sendo responsável, também, pela geração de 4,7 milhões de empregos. Comparativamente, é quase equivalente ao setor agrícola, que representa 4,5%.
Em última análise, o Terceiro Setor se posiciona como um elemento indispensável para a concretização da Agenda 2030. Desempenhando um papel de agente transformador, preenchendo lacunas deixadas por outros setores, ele impulsiona mudanças significativas em direção ao desenvolvimento sustentável. Seu impacto ressoa na qualidade de vida das pessoas, na mitigação das disparidades sociais e na promoção de uma consciência e ação coletiva para uma sociedade mais justa e equitativa.