Pantanal vivo: a importância das brigadas locais para a defesa do bioma  

Artigos | Expedição Pantanal
28.10.24

Por Luciana Kamimura, coordenadora de Estratégia Institucional da Fundação Toyota do Brasil para Eco 21

Ainda que o Pantanal não tenha chegado no auge de seu período de estiagem, o bioma segue queimando em proporções cada vez mais assustadoras e cruéis. As mudanças climáticas pausaram as chuvas mais cedo este ano e as previsões meteorológicas indicam que os próximos meses serão ainda mais críticos, com tempo seco e acúmulo de vegetação desidratada, que queima com rapidez. É crucial, portanto, que o combate seja feito assim que qualquer novo foco de calor seja detectado.
 

Dados do Mapbiomas apontam que nos primeiros seis meses de 2024, a queima no Pantanal foi de 468.547 hectares, um aumento de 529% em relação à média de 2019. E em 2024 as áreas destruídas devem superar os número de 2020, os piores já registrados. 
 

Neste sentido, um trabalho conjunto entre os governos estaduais e federal é fundamental, uma vez que 95% da extensão do Pantanal fica em propriedades privadas. Dessa forma, para que haja intervenção federal, os Estados atingidos precisam solicitar ajuda ou declarar estado de emergência. E essa dobradinha vem acontecendo. São mais de 300 brigadistas do Prevfogo/ Ibama e do Instituto Chico Mendes, além de 400 militares das Forças Armadas, 95 da Força Nacional e dez da Polícia Federal, dezenas de barcos e veículos.
 

Para somar esforços, a experiência dos  brigadistas locais têm ajudado a salvar a vida de milhares de animais e a conter os impactos das queimadas na sociobiodiversidade da região. Além das técnicas de combate em si, os brigadistas trazem o conhecimento sobre as dinâmicas naturais do Pantanal, das técnicas de uso do fogo aplicadas pelas populações tradicionais, de rotas de acesso e pontos de água. Essa experiência contribui para agilizar o enfrentamento ao fogo, sobretudo na identificação dos focos iniciados por intervenção humana sem prescrição autorizada, a causa mais urgente de ser combatida atualmente.


E se o pior ainda está por vir, é urgente pensarmos em como fortalecer e facilitar o trabalho desses cuidadores, que a cada dia lidam com o imprevisível e incessante trabalho, dia e noite, sem hora pra acabar. Um ofício que exaure física e mentalmente, sobretudo pelas longas distâncias a serem percorridas, a insalubre fumaça aspirada, a falta de equipamento e a ligação afetiva que têm com a região. Não há corpo e mente que aguentem tanto esforço e tristeza sem apoio. Equipamentos, transporte, efetivo, remuneração, equilíbrio mental e descanso é o que esses heróis e heroínas precisam.


Há cinco anos, o SOS Pantanal vem atuando no combate aos incêndios na região de Corumbá (MS) junto às Brigadas Pantaneiras, 24 brigadas espalhadas entre Pantanal sul e norte. Desde 2021, a iniciativa já treinou e capacitou 450 pessoas para enfrentar as devastadoras chamas que assolam o que era a maior área úmida do planeta. Um trabalho precioso e que merece ser enaltecido.
 

Crédito: Arquivos SOS Pantanal


A luta é coletiva

A crise climática que seca o Pantanal exige um esforço coletivo em prol de soluções concretas e perenes para frear esses incêndios florestais. A colaboração entre o poder público e a iniciativa privada não apenas multiplica os recursos disponíveis, mas amplifica o alcance e a eficácia das ações de combate. 
 

Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, as ações de combate conseguiram extinguir 30 dos 54 incêndios registrados até o dia 7 de julho, o que corresponde a 55% do total. A ministra Marina Silva anunciou o investimento de mais de R$ 137 milhões para criação de um programa para  mapear os incêndios iniciados pela ação humana. Segundo o MMA, os recursos ajudarão na contratação de mais brigadistas, aquisição de equipamentos de proteção individual, pagamento de passagens e locação de meios de transporte, entre outros. 
 

A base instalada pelo IBAMA com a permanência de peritos para o socorro de animais feridos tem sido de uma eficácia extraordinária, trabalho que se complementa aos esforços de refúgios ecológicos privados, como o Refúgio Caiman, do qual o Instituto Arara Azul faz parte, que viu 80% de sua propriedade virar cinzas no começo de agosto, uma destruição sem precedentes.
 

É sempre bom lembrar, para quem está longe, que doações financeiras – ao SOS Pantanal, Instituto Arara Azul, Instituto Onça Pintada, dentre tantos outros –  é a melhor forma para promover a resposta rápida e coordenada na proteção de nosso majestoso pântano. 
 

O Pantanal precisa de nossa coragem e ação, porém, sem a função ecossistêmica  equilibrada desse imenso reservatório que nos supre de água doce, que estabiliza o clima e preserva o solo, quem estará frito somos nós.

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