Projeto na Serra da Mantiqueira atrai investimentos de títulos verdes

Por Viviane Mansi, Presidente da Fundação Toyota do Brasil

A agenda da sustentabilidade direciona os rumos da nova economia em construção, atraindo cada vez mais recursos financeiros para projetos de proteção e recuperação da biodiversidade e gerando benefícios reais para a qualidade de vida das pessoas. Esse é um caminho sem volta, ainda que a gente veja alguns percalços no caminho. Para empresas e organizações, não se trata de uma escolha, mas do entendimento de que já há uma mudança de rota em curso e é preciso ajustar as estratégias de negócios visando potencializar essa agenda.

Na Fundação Toyota do Brasil, os nossos esforços têm sido no sentido de fortalecer os laços na cadeia de negócios da mantenedora por meio de projetos apoiados pela nossa organização. Um exemplo é a atração do aporte de cerca de R$ 1 milhão do Banco Toyota para o projeto Águas da Mantiqueira, que conta com apoio da Fundação Toyota desde 2017, com o objetivo de realizar um estudo do território para garantir a manutenção dos recursos hídricos, dos serviços ecossistêmicos e das espécies nativas de Mata Atlântica na Região da Serra da Mantiqueira.

No fim do ano passado, o banco aprovou a destinação de recursos financeiros para cobertura adicional, dentro do projeto, de 21 hectares de matas nos municípios de Sapucaí-Mirim e Gonçalves, no sul de Minas Gerais. Esse recurso é proveniente de uma captação em letras financeiras verdes – também chamados títulos verdes – realizada em novembro de 2021 e que levantou um total de R$ 700 milhões que poderão ser usados para financiar modelos híbridos de veículos. 

Para os que não têm tanta familiaridade com o tema, green bonds são títulos de dívidas emitidos especificamente para financiar projetos com benefícios ambientais, declarado por empresa ou governo no momento da emissão.

Além do estímulo ao desenvolvimento do mercado de automóveis que combinam motor à combustão e motor elétrico, com redução na emissão de gases poluentes, foi possível direcionar parte dos recursos para o projeto Águas da Mantiqueira, dobrando sua área total de cobertura para 45 hectares em 2022, e, assim, ampliando a proteção da fauna e da flora locais e a preservação de mananciais importantes para o abastecimento de água potável da região.

Realizado pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag) desde 2017, o projeto engaja um total de 30 pesquisadores que atuam em áreas remanescentes da Mata Atlântica, distribuídos em 71 bacias hidrográficas nos municípios de Santo Antônio do Pinhal (SP), Sapucaí-Mirim e Gonçalves (MG). 

O projeto Águas da Mantiqueira estabeleceu um novo caminho para a recuperação de áreas degradadas por meio da iniciativa Restauração Ecológica e Biocultural nas Bacias Hidrográficas em Santo Antônio do Pinhal, resultando em aumento na diversidade de espécies nativas por meio da dispersão de sementes promovida por aves e mamíferos que vivem nas florestas de região. A expectativa com o projeto é que, no futuro, boa parte do território de floresta volte a ser ocupado por grande diversidade de espécies nativas.

A Serra da Mantiqueira é apontada como o oitavo ecossistema mais rico em diversidade de espécies no mundo, um verdadeiro tesouro, considerado único. São bosques, florestas, nascentes e fauna da maioria das espécies da Mata Atlântica, espalhadas ao longo da Serra, permitindo a ocorrência de um clima singular e a maior concentração de água mineral em quantidade e qualidade no planeta, com função essencial para o Sistema Cantareira, em São Paulo, que abastece diariamente mais de cinco milhões de pessoas.

A atração de recursos de uma operação financeira, de captação de títulos verdes para financiar um trabalho pioneiro de planejamento territorial para o desenvolvimento econômico e social sustentável na Serra da Mantiqueira é um exemplo de ação que pode conectar e potencializar os diferentes elos da cadeia de negócios: o Banco Toyota e a Fundação Toyota do Brasil.

Assim, o investimento ganha um sentido maior, não só dentro da própria companhia, mas também para os parceiros e para a sociedade, com o engajamento de diferentes estratégias para uma agenda comum: a construção das bases de uma nova economia, para uma sociedade mais justa, com cuidado e respeito ao meio ambiente e às pessoas.